“25 de Maio de 1996, domingo, Lobito, Angola

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A coluna de camiões das Nações Unidas – conduzida e mantida mecanicamente desde Pretória, de onde saíra a 16 de Maio, por 30 militares portugueses, da Companhia de Logística, CLOG6 – acabara de «acostar» naquela cidade portuária atlântica, renovando o fôlego anímico após mais de três mil quilómetros por estradas sul-africanas, o deserto namibiano e as atribulações de uma Angola em guerra.

Duas décadas após arrearem a bandeira das quinas na então Colónia Ultramarina, os militares portugueses descobrem-se «veias» na reconstrução de um país sedento de paz, através da dedicação da CLOG6 e da Companhia de Transmissões, CTM5.

São soldados anónimos que suam no terreno a herança de reabilitar um passado de conotações pejorativas, os dedos apontados nas culpas de exploração colonial, da independência caótica e da sequente guerra.”

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Restabeleceram ali um sentido de estar em casa tão estranho quanto «ilegal» pela formalidade das coisas; isso de se estar num país estrangeiro na lei, mas não na alma, na partilha de culturas e de referências humanas.

Suados e esgotados, a unidade está visivelmente orgulhosa após 138 horas ao volante e 17 paragens por problemas mecânicos. Karatzoulos diz-lhes nunca ter visto durante o seu trabalho com as Nações Unidas tal entrega e abnegação profissional.

Bastou o duche retemperador, o primeiro há mais de uma semana para as quatro noites dormidas no interior dos camiões e duas outras em pavimentos empoeirados de quartéis ou residências abandonadas – na mais longa operação de sempre realizada por estrada pelas Nações Unidas – transitarem de espinho em flor. Semente de esperança numa Angola em paz.”

In “ANGOLA, O Regresso do Fim do Mundo, Três décadas de histórias da História nos cadernos de um repórter”, António Mateus, 2016